ESPECIAL NATAL | CONTO: Presente Inesperado | CARINA ROSA

By Vera Carregueira - 22:34



 


 Presente Inesperado

Quando o dia amanheceu, soube que ia ser o pior da minha vida.
Fechei os olhos para dormir mais um pouco e não ser obrigado a ver a neve lá fora, as luzinhas festivas a iluminar o pátio do jardim esbranquiçado, os meus familiares a brincarem na neve, entre gargalhadas, cânticos de Natal irritantes e quedas perigosas, que provocariam feridas que eu mais tarde, estava certo, teria de lamber.
Oh, como eu detestava o Natal! Não queria vê-lo tão cedo e tão de perto, nem sequer de longe. Sim, eu fechava os olhos e tapava os ouvidos, mas a realidade de que um curto ano tinha passado e de que era Natal outra vez impunha-se em cada pensamento e dava-me a impressão de que o pesadelo tomava proporções ainda mais gigantescas, quando a escuridão se apoderava das minhas pálpebras. Então virei-me para o lado direito na cama, depois para o esquerdo e por fim deitei-me de barriga para cima. Suspirei e abri os olhos outra vez, vendo a minha respiração entrecortada ter efeitos oscilantes na minha barriga peluda.
Caramba, estava a ficar barrigudo! E este dia de Natal ia contribuir ainda mais para o enchimento dos meus pneus. Não que os meus familiares permitissem que eu comesse tais coisas, como fatias douradas cheias de óleo, taças de arroz doce e outras iguarias como … oh não, não podia nem pensar em quadradinhos de chocolate, os mesmos quadradinhos que sabia estarem ao meu alcance, lá em baixo, na mesa já enfeitada da sala de jantar. Sabia bem o mal que me podiam fazer. Da última vez…
- Ai! – exclamei, quando senti o meu pequeno corpinho embater fortemente no chão de madeira do quarto, depois de ter rolado e rolado na cama até cair, distraído com os meus pensamentos.
Sim, pensei, coçando a parte de cima da minha cabecita. Sem dúvida o pior dia da minha vida.  
Continuava a ouvir músicas de Natal e vozes totalmente desconexas e desafinadas a cantar lá fora. E agora acrescentava a tudo isto uma grande dor de cabeça!
Levantei-me e empoleirei-me na janela do quarto para ver o que se passava no exterior. No meu íntimo, ainda tinha esperança de que não fosse realmente Natal, de que todas as visões de neve, de luzes e de árvores enfeitadas não passassem de pesadelos, como todos aqueles que eu tinha ao longo do ano. Mas não. Estava frio e nevava mais uma vez, como era hábito nesta altura do ano, em Fafe, havia muitas casas iluminadas e enfeitadas nas redondezas e as crianças brincavam na neve, equipadas com os seus quentes casacos, gorros, luvas e botas de pele de carneiro.
Sei que já devia estar habituado, mas o Natal deprime-me sempre. Nunca tive casacos, nem gorros, luvas ou botas. E pouco brinquei na neve. Não posso usar sapatos e … bem, não suporto muito bem o frio. Quando vos contar, vão perceber porquê. Assim que me passar a dor de cabeça. E sei que esta não perdura agora por efeito da queda, mas das vozes, oh … irritantes vozes! E embora eu sempre tenha gostado de rock, não suportava mais Bruce Springsteen & E.-Street Band , com o seu Merry Christmas Baby! Ou talvez suportasse, porque o meu rabinho começou a agitar-se de um lado para o outro sem que eu o tenha ordenado a fazê-lo. Ele faz sempre isso quando estou alegre e é triste saber que mesmo quando estou em baixo, o meu rabinho está feliz. Sim, ele é um traidor. Pena é que não o possa cortar com as minhas próprias mãos! Em poucos minutos também o meu corpinho peludo se agitava com a música e não consegui evitar começar a cantar também, contagiado pelos meus donos. Sim, donos. É que sabem … eu sou um cãozinho, essa é a triste realidade, o meu cantar não passa de um ladrar um tanto incompreensível para os humanos que me ouvem e aí está o motivo para a minha depressão.
Desencostei as minhas patinhas da parede e dirigi-me à porta do quarto encostada, conseguindo abri-la à terceira vez com a ponta do meu nariz humedecido. As minhas patas nunca foram de grande utilidade. Sempre que tentava abrir portas com elas, fechava-as. Quanto à neve … esse granizo empastado de que os humanos gostam é fria demais para mim. As almofadas que revestem as minhas patas e que me protegem dos pisos incertos, lamacentos, frios ou quentes, não são tão resistentes quanto podem pensar e queixam-se quando em contacto com o gelo. E tudo bem, confesso, já usei casaquinhos. Tenho-os de todas as cores e feitios para os meus passeios matinais e nocturnos, domingais ou festivos, durante o Inverno, mas nunca serão iguais aos dos meus donos, nem eu poderei andar lá fora despreocupado, com este frio.


- Vamos levá-lo para dentro. Está a tremer. Coitadinho! – disse a minha dona Emília, comigo ao colo, no primeiro Natal em que tentou levar-me lá fora.
Andei e corri contente pela neve durante algum tempo, grato pelos momentos de liberdade cedidos, mas em poucos minutos não podia mexer-me. Tinha as patas geladas e petrificadas e tremia, quando a minha dona me pegou ao colo.
- O Simão não pode andar cá fora. Não foi coisa que não te dissesse – avisou Francisco, o chefe de família, enquanto me observava nos olhos com uma expressão estranha, como um médico a examinar-me.
Eu queria parar de tremer. Até ordenei ao meu rabo que começasse a agitar-se fortemente de alegria, mas ele não me deu ouvidos e continuava murcho como um carapau morto. Comecei então a fazer-me ouvir através da minha voz. Tudo o que disse foi:
- Não se preocupem comigo! Eu sou forte. Isto já passa. É uma questão de hábito. Por favor, donos, ponham-me no chão!
Ao que Francisco respondeu:
- Está bem, está bem, vamos levar-te para dentro, pequeno – enquanto me coçava a cabeça.
Recomecei a ladrar, protestando que não fora isso o que tinha dito, mas a dona Emília só soube dirigir-se comigo para a porta da entrada, a passos largos, sussurrando-me aos ouvidos, enquanto me pegava nas patas:
- Desculpa, Simão. Tens as patinhas geladas. Não tens sapatinhos como nós, não é? – e pousou-me no piso da entrada da casa, enquanto me tirava o casaco, sempre difícil de entrar e de sair, porque as minhas patas ficavam presas nas finas aberturas para as mangas. – Fica quentinho perto da lareira, está bem? Nós não demoramos – e fechou a porta à minha frente, deixando-me só.
Passei por entre a brecha da porta aberta e caminhei até ao corredor, que dava acesso ao quarto dos meninos da casa, os dois filhos da dona Emília e do sr. Francisco, Nádia e Pedro. Detive-me a olhar para os seus quartos vazios e depois deitei-me junto ao primeiro degrau da escadaria que dava para o andar de baixo, para a sala de estar e de jantar, com o focinho apoiado nas minhas duas patas dianteiras, cremes com pequenas manchinhas castanhas.
Bruce Springsteen & E.-Street Band tinham-se calado e o meu rabinho já não se agitava de alegria. Tocava agora na aparelhagem Baby Please Come Home, dos U2, e eu senti-me novamente deprimido. Queria, de facto, que os meus donos regressassem a casa, que a árvore de Natal não estivesse iluminada e enfeitada no andar de baixo, que o fogo da lareira não crepitasse tão alto e tão quente e que as iguarias da época não brilhassem em cima da mesa, todas aquelas coisas que eu sabia não poder comer. Sim, talvez tenha sido desde o Natal em que fui à força retirado da neve que este passou a ser o pior dia da minha vida. Sentia-me sempre só e essa solidão não tinha nada a ver com presentes. Os embrulhos jaziam por abrir debaixo da árvore de Natal e eu sabia que nenhum deles era para mim, nem o esperava ou desejava. Queria apenas ser mimado como o era em todos os outros dias do ano, pois neste dia, eu não era senão desprezado.
Comecei a lamber a minha pata esquerda para curar as feridas que sentia no meu coração e tive vontade de chorar. Os meus donos continuavam a rir-se do lado de fora, eu ouvia a neve a cair no piso outrora esbranquiçado como pedaços de nuvens caídas e agora sujo de terra pelas botas dos intrusos.
Algo dentro de mim se agitou e eu levantei-me, erguendo a cabeça. Imediatamente, as minhas orelhas arrebitaram-se e puseram-se alerta: sim, eu era apenas um cãozinho abandonado no dia de Natal, mas isso iria mudar. Eu iria atrair a atenção dos meus donos.
Senti o meu rabo agitar-se em concordância: pela primeira vez, ambos estávamos do mesmo lado da batalha. Rodopiei em redor de mim mesmo, satisfeito com a ideia que tinha tido, e comecei a correr como um louco pela casa, descendo e subindo as escadas, a cada asneira cometida. Fiz xixi no caixote do lixo da cozinha, lá em baixo, mais um bocadinho numa das pernas da mesa de jantar, depois subi e fiz o mesmo na colcha da cama da dona Emília. Não estando satisfeito, fiz algumas mijinhas no corredor de acesso aos quartos, deixei cair umas pinguinhas na escadaria e por fim, levantei a pata traseira num derradeiro ataque final: acho que ainda sorria quando aliviei a bexiga pela última vez num dos presentes, por baixo da árvore de Natal, sem me importar com o seu destinatário.
Comecei a dar saltinhos, enquanto o meu rabo se agitava, satisfeito com os resultados das investidas da minha bexiga à casa, quando por fim, a consciência arrebatou-me e as orelhas caíram, desamparadas, em cima da minha cabeça. O meu sorriso desfez-se, os meus olhos inclinaram-se de vergonha para o chão de madeira e o meu coraçãozinho começou a bater mais depressa.
Olhei para o caixote do lixo da cozinha, para as pernas da mesa de jantar, para a escadaria e para o presente ferido com a minha urina e tive novamente vontade de chorar. Sim, tinha-me vingado dos meus donos e da sua falta de atenção e de afecto para comigo, mas não me sentia melhor. Pelo contrário. Eles iriam ficar muito tristes comigo quando vissem aquilo que fiz. Tinham sempre o cuidado de me levar à rua várias vezes ao dia, esperando que eu aliviasse a minha bexiga e até muito depois disso, desejando que eu me divertisse, respirando ar puro, dando uso às minhas jovens e saudáveis patinhas e tentando abater os pneus que se iam acumulando na minha barriga, fruto do meu sedentarismo. Não, eu não tinha o direito de urinar a casa toda … muito menos no dia de Natal, quando eu sabia que os meus donos e sobretudo a dona Emília tinham feito tantos esforços para ter a casa impecável! Acima de tudo, eu sabia o motivo pelo qual eles não me deixavam brincar lá fora quando fazia muito frio e nevava. Sabia que só queriam proteger-me e mesmo assim, fui tão maldoso!
Num acto de tristeza e de revolta para comigo mesmo, corri em direcção à mesa da sala de jantar e empoleirei-me, agarrando-me à toalha de mesa e deixando cair, acidentalmente, um prato ao chão.
- Simão! – ouvi, aterrorizado, ainda empoleirado na mesa, com a cabecita a espreitar para a porta do outro lado, para os olhos escuros da dona Emília, que me fitavam, impiedosos. – O que é que fizeste?
Dei um salto instintivo para o chão e agachei-me, medroso, baixando as orelhas que se haviam levantado com o susto e encolhendo-me de tal modo, que desejaria tornar-me invisível. Os passos da dona Emília fizeram-se ouvir no soalho de madeira e ela aproximou-se de mim, acocorando-se com uma expressão de fúria no rosto.
- O que fizeste, Simão? O que significa este prato partido? – perguntou, apontando para os pedaços de vidro despedaçados no chão e para as fatias douradas espalhadas pelo soalho. – Cão mau! – acusou. – E também fizeste xixi! – constatou, olhando para a perna da mesa e para as escadas a seu lado. – Para que te levou o Chico à rua de madrugada? Hein? Para quê?
Tentei expressar-me, ladrando, mas isso só contribuiu para que ela ficasse mais irritada e ordenou-me, com um dedo apontado ao andar superior, que desaparecesse da sua vista para ela não me bater.
Escusado será dizer que fugi com o rabo entre as pernas, receoso que ela descobrisse a mancha de xixi na colcha dela. Ia matar-me! Quis chorar, porque agora, além de os meus donos me desprezarem, também me detestavam, mas nunca consegui verter uma lágrima. Limitei-me a esconder-me no quarto da Nádia, deitar-me ao lado da cama dela, no chão, e lamber as minhas patas, uma a uma, até que as feridas se curassem. Não curaram.
O CD de Natal acabou de tocar, foi colocado outro, ouviram-se mais vozes, cantorias e gargalhadas e eu continuei escondido, receoso de tudo, vendo pela janela do quarto da Nádia o pior dia da minha vida passar diante dos meus olhos. A dona Emília fez nova limpeza à casa, o almoço foi ingerido, o lanche devorado e o jantar preparado. Fez-se noite e eu não tinha bebido, comido, nem dormido uma soneca, como era hábito. Sabia que a minha refeição se encontrava na cozinha, mas não tinha coragem de ir até lá depois do que tinha feito. O quarto estava escuro, silencioso, e eu chorava por dentro, com as patas molhadas das minhas lambidelas, as orelhas murchas e o coração ferido.
Sim, sou um cão mau, pensei, amaldiçoando-me. Prometo nunca mais fazer nada semelhante. Nem que a minha bexiga rebente!
Foi então que um ladrar incessante no andar de baixo me despertou os sentidos. As minhas orelhas arrebitaram-se, o nariz torceu-se de um lado para o outro, numa tentativa de lhe adivinhar o cheiro, e as minhas patas apoiaram-se instintivamente na cama, enquanto o meu rabinho se agitava de uma alegria sem motivo.

O que se passaria?, pensei. Quem seria o cãozinho visitante?
Esquecendo-me do meu castigo, corri em direcção ao corredor e fitei o andar de baixo do cimo da escadaria, imponente como um rei do alto do seu trono. Sempre achei que o amor jamais aconteceria para mim, mas a visão que tinha do andar de baixo, daqueles olhos escuros, do focinho gracioso, das orelhas pequenas e arrebitadas, das patinhas delicadas, do rabinho também agitado, parou-me o coração.
- É lindo, mãe! Lindo, lindo! – gritava Nádia, entusiasmada, pisando inconscientemente os papéis dos embrulhos espalhados pelo chão, enquanto se acocorava no soalho de madeira para acariciar, com as mãozinhas pequenas, a cabecinha do intruso.
- Linda, filha. É uma ela.
Uma cadela!, pensei.
O meu faro não podia ter-me enganado. Tinha-o sentido como fogo que me queimava por dentro. Tocava a música Silent Night , de Mariah Carey, e eu senti o amor brotar-me de todos os poros do meu corpinho peludo. Os meus olhos perderam-se nos círculos escuros da minha amada, que me fitava agora de volta, e tudo o resto se evaporou: a mesa repleta de iguarias parcialmente devoradas, o crepitar do fogo da lareira, já escasso, as luzes da árvore de Natal, os embrulhos rasgados, os presentes espalhados, as vozes dos meus donos e das crianças, que se difundiam como uma nuvem de fumo.
- Simão, portaste-te muito mal. Estás de castigo! – vociferou a dona Emília, também acocorada e fazendo festas à recém-chegada, enquanto me dirigia um olhar furioso.
Devia estar com ciúmes, pensei.
Ciúmes por ver todos aqueles que eu amava revoltados comigo e amáveis com uma cadelinha nova, que ninguém conhecia, quando eu … eu conhecia-os há dois anos! Dois longos anos de festas, lambidelas, ladrares afectuosos e amor, muito amor, mas … eles tinham razão por me detestarem e eu estava encantado, delirante, apaixonado. Parecia-me que todos os sentimentos cruéis que me tinham invadido nesse dia se haviam desvanecido depois das asneiras que fizera ao longo da casa.
- Deixa-o, mãe. Coitadinho! – disse Pedro, que havia feito recentemente dez anos e já se achava o homenzinho da casa.
Dirigiu-se à escada e subiu até ao último andar para pegar em mim ao colo, que me encontrava petrificado. Tinha por hábito ladrar a todas as visitas indesejáveis e ficar em tal estado hiperactivo que os meus donos tinham de me pregar valentes sermões, mas aquela cadelinha roubara-me o fôlego, as palavras e até a energia. Deixei-me pegar ao colo, como um bebé, de olhos fixos na recém-chegada, até que o Pedro me pousou junto dela.
- Esta é a Nina – apresentou Nádia, atropelando as palavras com os erros próprios dos seus três anos.
- Vai ser tua irmã, Simão – disse o senhor Francisco, sentado no sofá, com o comando da televisão na mão, pouco interessado na nova inquilina. – Tem a tua idade, sabias? Adoptámo-la no canil.
Senti os meus olhos brilharem.
Não, pensei. Não vai ser minha irmã.
A Nina fechou e abriu as pálpebras para mim, num olhar sensual, e o meu rabo começou a agitar-se com uma energia nunca vista.
Ela tinha o pêlo fino, luzidio e negro como a noite. Era mais pequenina do que eu e eu sentia-me alto, másculo e protector junto daquela nova fêmea. Sim, tinha de fazer de tudo para a proteger.
- Achas que o Simão está doente, mãe? – inquiriu Pedro, baixando-se com as mãos apoiadas nos joelhos para observar o cão. – Ladra sempre quando vê outros cães. Não é normal estar tão calado.
- Deve estar murcho pelo sermão que lhe preguei. Deixa-o, que é merecido!
Ao ouvir a voz da minha dona, desviei o olhar para Emília e dirigi-me a ela, inclinando-me para lhe lamber o nariz. Era um gesto de arrependimento, de perdão, mas sobretudo de agradecimento. A partir deste dia, eu nunca mais voltaria a passar um Natal sozinho.
Emília repeliu-me com um gesto de mão.
- Arghhh! Que nojo! Não me voltes a lamber o nariz, Simão! Não gosto disso! – mas ao ver a minha expressão lamuriosa, sorriu-me e inclinou-se para mim, afagando-me as orelhinhas peludas. – Está bem, estás perdoado. Mas só porque é Natal. Não voltes a fazer uma destas!
Em resposta, eu ladrei alto e bom som e dei-lhe uma nova lambidela no nariz, pouco importado com as consequências. O meu rabinho voltou a agitar-se e eu corri para junto de Nina, pousando uma pata em cima da dela. Comecei a cheirá-la em todo o lado, enquanto ela se retraía, receosa, e depois lambi-lhe o pelinho cortado rente, junto da barriga.
Pedro soltou uma gargalhada e apontou-nos um dedo.
- Acho que o Simão está apaixonado, mãe.
E estava. Sabia que Nina não fora um presente para mim, muito menos o merecia, mas com o tempo, acabaria por ser meu, só meu, e nada mais importaria: nem o frio, nem a neve lá fora, que nos impossibilitaria de caminhar, nem os cantares e os embrulhos para outras pessoas. O meu melhor embrulho tinha chegado na forma de amor e tinha em seu redor uma moldura perfeita, enfeitada não de bolas, fitas ou estrelas brilhantes, mas de pessoas, uma família que eu amava e jamais esqueceria. Fosse Natal ou não, este seria, para sempre, o melhor dia da minha vida. 


Sobre a autora

Carina Rosa nasceu em Lisboa em 1986 e vive no Algarve. Passou grande parte da sua vida num ginásio e depois de ter integrado, como atleta, nas épocas de 2002-2004, a Selecção Nacional de Trampolins e Desportos Acrobáticos, participando em várias competições internacionais, descobriu na escrita uma outra paixão. Licenciou-se em Ciências da Comunicação pela Universidade do Algarve e trabalhou em jornalismo de imprensa, na rádio e televisão online. Mas a ginástica foi sempre a sua casa e é trabalhando com classes de formação gímnica que passa os seus dias, como técnica de Ginástica Acrobática. Considera-se uma apaixonada pelas artes e pela cultura, no geral, estabelecendo uma relação muito próxima entre a música, a dança e as letras. A escrita é uma paixão que tomou forma em 2012, ao publicar o seu primeiro romance «O Intruso». Desde então tem-se dedicado a escrever diversos romances, uns mais leves, outros com um carácter mais denso, entre histórias contemporâneas e policiais, os seus géneros favoritos. Gosta de abordar as diversas relações com um balanço entre o realismo e o drama. Em 2013, deu a conhecer aos leitores «As Gotas de um Beijo». De momento, está a trabalhar num romance policial. «A Sombra de um Passado» é a sua terceira obra publicada.

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