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2014. Finalmente temos tecnologia super avançada e fixe o suficiente para
criar criaturas alienígenas, mundos paralelos, cenários espectaculares que
conseguimos transportar directamente da nossa mente para ecrã. E temos o Hans
Zimmer, por isso podemos muito bem rirmo-nos na cara dos filmes dos anos 20,
que haha não tinham tecnologia nem sequer uma camara decente…
Err… pois…
Porque como sempre existe uma criatura que não é a minha professora de
alemão, mas faz-me lembrar a dita cuja, cujo único objectivo é dar-me
pesadelos. F. W. Murnau. Esse director alemão que provavelmente sofria de
insónias e decidiu que tal como ele ninguém devia de dormir e por isso decidiu
fazer um filme sobre o Nosferatu e Fausto. Lembrem-se (ou não, isto também é
uma lição), estamos nos anos 20, década onde o expressionismo alemão estava em
alta e como é óbvio, os alemães expressavam-se da forma como eles sabem:
darem-me pesadelos!
A forma como encontrei o filme foi no mínimo engraçada. No meu manual de
alemão estávamos a falar sobre géneros de filmes e no de terror tinha a imagem
da sombra “famosa” do filme, onde Dracula (screw you familiares do Stoker),
está a subir umas escadas. Só isso. Depois no semestre a seguir estava a
estudar expressionismo alemão nos vários campos: literatura, arte, cinema e
conheci o Metropolis de Fritz Lang. Para quem não conhecia nada de cinema mudo,
O Metropolis é espectacular… até que o professor decide mostrar de um momento
para o outro o trailer do Nosferatu. A sala estava escura, aula das 19.30,
ambiente mais que perfeito para isto:
Bom, decidi que dormir era para pessoas fracas e por isso durante uma
semana tive pesadelos com isto! Mas chega da minha experiência mais que
traumática e vamos ao filme.
Na verdade nunca antes tinha visto o filme todo, do início ao fim. Sim, sou
uma medricas, mas enfim tinha lido coisas sobre o filme, sabia muitas coisas
sobre o filme, mas nunca o tinha visto de fio a pavio. Fi-lo por vocês e para
vocês (awwww).
Nosferatu é uma sinfonia a cinzento e não do terror. Ao contrário de Lang
que utilizava efeitos especiais a torto e a direito (para a altura), Murnau
sempre utilizou as escalas do cinzento e contrastes absurdamente bons para criar
uma atmosfera perfeita. O contraste da palidez de Max Schreck (FYI Schreck em
alemão é susto ou medo the puns!) com os cenários de contraste demasiado
saturado funciona para que não seja preciso mais do que a presença de Schreck
para criar uma cena perfeita. Infelizmente o filme é todo feito para o Conde
Orlok, e mesmo a “personagem principal” nunca o chega a ser na totalidade
porque o monstro rouba as cenas. Os primeiros 15 minutos são um aborrecimento
porque o conde só entra em cena bem depois quando a “personagem semi-principal”
é ludibriada a mostrar casas para o Conde comprar. Ao bom estilo da literatura
clássica, o início está repleto de premonições. A personagem anuncia à noiva
que vai para as terras “ dos fantasmas” para fazer um negócio e ela implora
para ele não ir. Quando chega à terra e anuncia numa tasca que tem de ir para o
castelo do Conde Orlok, todos olham com medo nos olhos. Embora a personagem
comece a achar que algo de mal se passa, ri-se quando lê um pequeno livro sobre
o Nosferatu. No entanto acredita que isso são lendas e histórias para assustar
crianças. Tudo isto feito com 5 linhas, até agora de texto!
Quando finalmente consegue ir até ao Castelo do Conde Orlok e é deixado no
meio de algures porque ninguém tem coragem de o deixar mesmo à porta do
castelo. Alguém vai busca-lo numa carruagem arruinada. E quem é o cocheiro? Ele
bem que tenta disfarçar e ainda bem que a personagem é vesga e estupida que nem
uma porta, porque duhhh da para ver a léguas que é um monstro. Ou então alguém
que tenha aderido à moda do eyeliner e das “nails”.
Embora a maquilhagem em Schreck seja perfeita, o mesmo não poupou esforços
para parecer pouco humano na sua performance. Há algo na sua forma de andar e
na sua expressão facial (ele só pestaneja um segundo durante o filme todo) que grita: monstro. Kudos à personagem por não saltar
para estereótipos de que pessoas completamente feias e assustadoras nos querem
sacar os órgãos internos!
Literally! I mean, ele não podia ser mais óbvio quando vê a fotografia da
noiva do moço e diz: your wife is beautiful, she has a very pretty neck! E
depois tumba, vou comprar a casa mesmo à vossa frente, sim sim aquela que está
em ruinas. Ahh wtv, eu gosto de castelos em ruinas! … Bem ao menos aqui a
personagem já não acha grande piada à coisa.
I loled!
Bem saltemos para a parte onde o moço descobre o Conde a dormir…. And OH
SHIT, HE’S AWAKE!!
HEART ATTACK! HEART ATTACK!! JFC! Mamããããã!!
Bem, pronto já passou. Eu ainda pensei que a personagem principal tinha
tido um AVC como eu e falecido, mas alas no! Ele recupera e escapa
completamente louco a dizer que anda um monstro atrás dele, o Nosferatu e
levam-no para o hospital. Entretanto o conde acorde e vê que o moço fugiu… por
isso decide ir para a sua nova casa para stalkar a mulher dele. E para isso
apanha um barco!
WTF!! OUTRA VEZ??? MAKE IT STAAAHPP!!!
Bem entretanto, enquanto recupero do heart failure, o conde anda pelo barco
todo feliz a matar pessoas e decide que he shall nom nom os dois últimos sobreviventes.
Ok um atira-se ao mar… mas o outro amarra-se a um poste God knows why (ninguém
era muito inteligente nos anos 20!)
Nesta altura notei que ele tinha cabelo atrás das orelhas e não sei se foi
por se ter alimentado ou porque simplesmente se esqueceram que o moço devia de
ser careca e a peruca que ele tava a usar se soltou para aqueles lados!
Bom lá aterra o rapaz e carrega o seu caixão pela cidade (srsly) e
instala-se na casa diante da casa da personagem semi-principal e quando a noiva
vai à janela… TA-DAH!
E ainda me perguntam porque é que durmo com tudo fechado…
Entretanto a noiva lê o livro que o noivo leu na tasca e enviou-lhe, mas
pediu para não ler e descobre como matar a criatura e então ludibria-a para ir
ter com ela.
Here it is! The famous
picture. Ah Murnau tantos pesadelos criaste só com esta silhueta.
A verdade é que o conde Orlok é uma montanha russa de emoções. Ao início
nem parece uma criatura muito assustadora (ok só é feio que doi, mas hey há
muita gente feia e boa pessoa), mas entendemos que só estava a assumir o papel
de Conde. No barco e quando dorme é que assume a sua persona de monstro e
sanguinário causando verdadeiros sustos. No final é quando ele aparece mais
bonitinho.
Se notarem nos últimos ângulos mesmo a cabeleira atrás das orelhas pouco se
nota. Não sei se foi intencional, mas a verdade é que quando aparece em frente
à noiva, depois de o vermos no seu pior, habituamo-nos a ele (o Umberto Ecco
podia-me dar aqui uma mãozinha no seu “On ugliness”). Enquanto o romance de
Stoker é uma sinfonia sexual, o vampiro é um monstro sedutor, o Nosferatu não
precisa de seduzir a mulher e vai direito ao que quer: sangue. Aliás ao
contrário do Drácula de Stoker que até parecia um homem de idade mas bem
apresentado, o conde mal consegue esconder a sua condição. Nosfertu é o símbolo
da morte e da peste que devastou uma população inteira. Murnau através das
imensas cenas com ratos demonstra que este vampiro é o símbolo (e talvez ele
vítima) da peste.
Curiosidades:
- O conde Orlok só aparece um total de 9 minutos no filme todo;
- O actor Marx Schreck só aparecia em cena completamente maquilhado;
- Existem um filme sobre a rodagem deste filme (filmception), chama-se Shadow of the vampire;
- A viúva do Stoker mandou destruir os negativos do filme, mas AHAH azares dos azares o filme sobreviveu até aos dias de hoje! Fiquei-lhe com um pó que nem imaginam!
- O filme foi banido na Suécia devido ao horror excessivo que foi levantado em 1972;
- Herzog diz que este é o melhor filme alemão.. we agree! Até porque:
- Este filme está na lista dos 1001 filmes que têm de ver.
Classificações:
·
Nosferatu:
eine Symphonie des Graues:
IMDB: 8.0
Rottentomatoes: 97%
Rottentomatoes: 97%
·
Nosferatu:
Phantom der Nacht
IMDB: 7.6
Rottentomatoes: 96%
·
Shadow
of the vampire
IMDB: 6.9
Rottentomatoes: 82%
Não felizes com o facto de terem traumatizado pessoal durante quase um século em 1972 surge pela mão de Herzog (outro alemão), o Nosferatu remastered. E embora ele tenha tentado dar um sentimento de solidão e terror e os crítcos o tenham adorado por motivos diferentes ao do seu antecessor, nada chega aos pés do Murnau.
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