Tivemos o prazer de entrevistar Célia Correia Loureiro a autora de Demência, cuja opinião podem encontrar aqui no blogue, e que lançará no próximo dia 20 de Outubro a sua obra, O Funeral da Nossa Mãe. Pedimos à Célia que nos falasse de si e eis o que nos disse.
"Nascida a 4 de Dezembro de 1989, fui
sempre criada em Almada. Mais velha de cinco irmãos, estudei Informação
Turística na ESHTE. Com o curso vieram as Línguas, a História, a paixão pelas
tradições. O amor à escrita vem de sempre e, da primeira vez que me vi de
frente para um computador, em noventa e tal, em vez de abrir o Solitário pedi
para me abrirem “algo onde pudesse escrever” e pus-me a compor um conto. Adoro
História, Arte e outras Culturas. Sou um bocado expansiva, falo demais e sou
igualmente observadora. Gosto de ver o Homem a viver, a reagir. Gosto de ouvir
falar das histórias dos outros. Sou completamente viciada em leitura."
O seu primeiro livro retrata
situações muito específicas mas bastante presentes na nossa sociedade. Quanto
da sua experiência pessoal colocou nessa obra?
Não muito. Não da experiência da vida
real, pelo menos, excepto no que diz respeito ao Alzheimer, porque convivi de
perto com uma das suas “vítimas”. Mas quanto a violência doméstica, amores
trocados, abortos? Limitei-me a eliminar a linha ténue que é, para mim, a que
distancia a realidade do meu mundo interior. São temas que mexem comigo, aos
quais presto atenção e sobre os quais tinha algo a dizer. Foi só expressar-me a
seu respeito, porque vivê-lo ou testemunhá-lo próximo de mim não tinha
testemunhado. Embora, claro seja que todos temos alguém não muito afastado que
viveu algo do género.
Que tipo de pesquisa faz antes de
iniciar um novo livro?
Depende do livro. Para o “Demência”
reuni artigos sobre o Alzheimer. Para “O Funeral da Nossa Mãe” pesquisei sobre
o Portugal dos anos 70 – veículos, música, empresas, anúncios televisivos,
mentalidade – e ainda sobre a síndrome de alcoolemia fetal. Pesquisei ainda
sobre a Índia sob controlo Português e sobre as raízes e mitos e simbolismos
associados ao lápis-lázuli. Para o 1809… bem, é melhor nem começar… li inúmeras
páginas de calhamaços de História, fui buscá-los à biblioteca, fui limpar-lhes
o pó na minha prateleira, associei-os à Gazeta de Lisboa (início do séc. XIX) online, e ainda ao “Diário de Clarissa
Trant”, residente em Portugal aproximadamente nessa altura, digitalizado
directamente da Austrália. Vi reportagens e li artigos e ensaios a respeito das
Invasões Francesas, etc., etc., etc.
Está prestes a lançar o seu segundo livro. Podemos esperar temas igualmente
fortes?

Quais as expectativas para “O Funeral da Nossa Mãe”?
Eu penso que este novo livro vá
satisfazer todos os que apreciaram o “Demência” – mais ainda a quem teria
gostado de ver uma história de amor como protagonista nesse primeiro romance.
Neste novo há um amor enorme – daqueles que consomem quem ama e o objecto desse
amor, há outros amores paralelos, há três mulheres indecisas, muito femininas,
fortes e frágeis à sua medida, a reunir coragem para desmascarar os podres da
união dos seus pais. Acho que os leitores vão achar este livro divertido,
nalguma medida. Não é algo que se pretenda deprimente, porque a ligação
mãe-filhas não era tão forte que este fosse um “funeral” convencional. Mas vão
sentir esse amor enorme. Penso que lhes há-de apertar o peito, porque a mim
aperta-se ao relê-lo. É mais um lavar de roupa suja. É mais um regresso às
raízes e o reunir de três irmãs, agora adultas, que estendem na mesa as peças
do puzzle que reuniram respeitantes à
união dos seus pais.
Tem algum tipo de organização
pessoal para escrever ou fá-lo por inspiração?
Eu bem tento organizar-me, mas nem na
escrita funciona. Geralmente faço uma folha com um esquema inicial quando me
ocorre a ideia para o romance, porque eu vejo-o transversalmente – do primeiro
momento ao último. É claro que ao final do primeiro capítulo já fugi a todo
esse primeiro relance que tive. Tenho esse documento a respeito de “O Funeral
da Nossa Mãe”, que a propósito teve outros dois nomes antes deste, e que em
nada convergem para o que o romance se tornou. O primeiro capítulo é que se
manteve o mesmo: a Carolina suicida-se.
Quais os seus projectos
literários para o futuro?
Espero muito ganhar terreno com
romances históricos, porque dá-me realmente prazer escrever sobre épocas-chave
da história nacional, como o terramoto de Lisboa de 1755 ou as Invasões
Francesas. Mas também quero muito criar algo introspectivo, quem sabe uma
compilação dos textos do meu blogue ou trabalhar melhor um romance que me foi
muito pessoal, intitulado “Os Pássaros”, que ainda não sinto suficientemente
maduro para abandonar o ninho. Quero algo a uma voz, algo que só faça nexo no
interior da cabeça de alguém, e que fale de amor. É que, até bem tarde, o amor
foi a coisa que melhor compreendi e que, simultaneamente, mais me intrigou e
mais me instigou a escrever.
Acha que o público está mais
receptivo aos jovens autores ou ainda se agarram a nomes conhecidos?

Como foi dar os primeiros passos
para ser editada? Foi difícil?
Dar os passos não é difícil, eu fiz o
que tinha de ser feito. Elaborei longos e-mails a várias editoras, “emoldurei”
as obras que estavam terminadas e enviei-lhas. Acredito que muitas nem se deram
ao trabalho de ver coisa alguma, simplesmente rejeitaram. Quem é esta Célia
Loureiro? Não era promessa alguma de venda, como gostaria um dia de ser, apenas
para melhor chegar a quem me quiser ler. A Alfarroba tem uma política
diferente. Divulga, dá rosto e voz a quem tem algum talento, mas não encontra
portas abertas por editoras de topo, que lidam quase exclusivamente com nomes
sonantes e best-sellers. Basicamente
dá-nos visibilidade, coloca-nos no meio e leva até vós, leitores, o fruto do
nosso sonho.
Gostaria de se aventurar noutro
estilo literário?
Sim. Visitei recentemente a Irlanda e
fiquei impaciente por tentar algo… fantasioso? Algo com bruxas, feitiços e
feiticeiros maus, algo que misture realidade e surrealismo, porque não creio
ter o talento de um Tolkien para escrever mundos de raiz. Mas fiquei encantada
com as lendas, os duendes e as fadas, e de mente muito mais aberta e estimulada
para a criação de algo do género.
Sente-se preparada para receber
novamente o mar de emoções que envolve o lançamento de um livro?
Hoje mesmo mencionei-o vezes sem
conta. O vestido, o cabelo, as flores que espero que estejam lá, os pormenores,
a câmara e o tripé. Vou estar a sorrir, de certeza, mas é como um segundo
filho. Quando o primeiro veio não sabia bem ao que ia, as pessoas “louvaram-me”
um pouco a mim pelo feito. Agora é o que hoje mesmo comentei: espero que este
lançamento seja sobre o livro. Pouco importo eu e a sua escrita, importa ele e
as suas formas, e estou ansiosa por apresentar aos leitores o desafio que foi
escrevê-lo, o quanto me mudou por ir mudando, o quanto me deixou satisfeita por
me permitir ser um bocadinho mais, um bocadinho até diferente daquilo que de
melhor tinha esperado para ele. Acho que fui adiante com as expectativas que
tinha dele, e agora os dedos tremem-me na ânsia de vos explicar a sua essência
e nuances. Aguardo-vos na Biblioteca José Saramago (Feijó) no dia 20 de Outubro
às 15h00. Apareçam por favor!
Agradecemos imenso à Célia a sua simpatia e disponibilidade, desejamos-lhe tudo de bom e que o lançamento deste novo livro seja um sucesso estrondoso. Se puderem não deixem de aparecer no dia 20 de Outubro para dar o apoio que a Célia merece.
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