Opinião |Três Coroas Negras e Um Trono Negro | Kendare Blake

By Vera Carregueira - 09:45

Opinião

Antes de mais tenho de referir as capas. Não são maravilhosas? A forma como se completam mostra que a ideia original da autora era escrever apenas uma duologia. A Porto Editora conseguiu umas capas absolutamente deslumbrantes, não só se completam lado a lado como se completam nas lombadas.


Em relação à história bem, há tanto para dizer. Antes de mais falemos acerca do worldbuilding, somos levados para a ilha de Fennbirn, uma ilha sobrenatural dividida em zonas distintas. Pelo que percebemos existem 3 poderes mais fortes e dois que aos poucos se foram diluindo e enfraquecendo. Assim temos os envenenadores que consomem veneno diariamente seja na comida seja na bebida e nem apreciam nada sem veneno. Temos depois os naturalistas, que são dotados de poderes sobre animais, o comum é conseguirem invocar um Familiar, isto é, um animal que será uma extensão sua. Enfim temos os elementais que dominam os elementos. Os poderes mais fracos são o da Guerra e o da Visão, sendo este último considerado uma maldição que pode levar a rainha à loucura. Tenho de referir também a existência da Maldição da Legião, que é quando uma pessoa nasce com dois dons. Para além da ilha onde se passa a acção, sabemos da existência do continente, onde as pessoas não têm qualquer poder. É de lá que vêm os pretendentes das rainhas. Apesar de aos poucos isso nos ser inserido na narrativa ajudando o leitor a ter maior percepção do mundo que lhe é apresentado, senti que faltava muita informação. Qual a origem da ilha? Quem é a deusa? Como surgiu a primeira guerra entre rainhas trigémeas? O que é o continente? Como se chama? Todos têm conhecimento da ilha? Falta portanto bastante background à nossa história, podendo levar leitores mais atentos a sentir falta de alguns elementos.


Três Coroas Negras começa por nos apresentar Katharine, a rainha envenenadora, pequena, magra, fraca, com um dom que teima em não se manifestar e sem qualquer aptidão social. A tutora de Katharine, Natália vai, juntamente com a sua irmã Genevieve, ao longo dos anos tentando que o dom da sua rainha se mostre. Habituadas ao poder, uma vez que as rainhas anteriores eram também envenenadoras, tentam a todo o custo que a jovem mostre mais do que é capaz. A acção  de Katharine passa-se principalmente em Indrid Down, a capital da ilha.
 
De seguida, viajamos para Wolf Spring, onde mora a rainha naturalista que é aventureira e forte apesar de dependente da melhor amiga Jules que tem como Familiar uma puma de nome Camden. O dom de Arsinoe também teimam em não aparecer, esta rainha não tem capacidade para invocar o seu próprio Familiar e vai seguir um caminho que se diz perigoso. Junto com Madrigal, mãe de Jules, vai iniciar-se em magia baixa. Tenho de parar aqui para referir que nunca percebemos muito bem se realmente existem ou não consequências em relação à utilização de magia baixa e se alguém sai verdadeiramente prejudicado pelo seu uso.

Por fim seguimos até Rolanth e à rainha Mirabella, uma rainha poderosa mas cujas tutoras têm dificuldade de instruir e orientar.


"Três bruxas negras,
Fruto da mesma terra.
Três gémeas meigas,
Agora entrarão em guerra.
Três bruxas negras –
Quais delas não se adivinha –
Mas duas terão de morrer:
Só uma será rainha."


Achei que as rainhas não eram devidamente preparadas politicamente, toda vivem em função dos seus dons, da força ou não-manifestação dos mesmos, porém quando a rainha ascende ao poder é ela quem manda, mesmo tendo um conselho, portanto falta instrução política às três. Toda a orientação que recebem gira em torno do facto de terem de matar as irmãs e desenvolver o poder que supostamente têm.

Tenho de dizer que apesar das críticas adorei o livro, vamos seguindo e acompanhando as peripécias das três rainhas e torna-se difícil escolher uma preferida, falo por mim claro. A escrita de Kendare Blake é apaixonante e somos envolvidos pelo ambiente da ilha e pela vida das trigémeas. A acção é rápida, por vezes frenética e leva-nos a querer mais e mais e as tramas secundárias são umas mais valia à narrativa, ajudando o leitor a um maior entendimento de todos os acontecimentos. O final de Três Coroas Negras praticamente obrigou-me a pegar em Um Trono Negro logo de seguida, mal era a ânsia de saber o que aconteceria depois.

Um Trono Negro começa mais ou menos onde o livro anterior termina e é um livro muito mais intenso, com muito mais acção e seguindo uma linha completamente inesperada. Uma das irmãs irá mostrar uma faceta completamente diferente neste livro, a sua personalidade muda completamente como se fosse uma pessoa diferente, não sendo difícil entender a razão para esta mudança, porém vai dar uma dinâmica diferente a este livro, em vez de três irmãs que sabem que se terão de matar mas não sabem bem o que fazer, aqui vão começar realmente os “jogos” mortais.  Não me vou alongar muito para não haver spoilers mas não esperava de todo o desenrolar da acção e o final deixou-me completamente estupefacta. Se realmente era este o final que Kendare Blake queria para a duologia acredito que ninguém imaginasse que poderia ser assim. Fico mais que satisfeita sabendo que haverão mais dois livros que irão acrescentar valor a uma história tão interessante. 


Exemplares gentilmente cedido pela Editora para opinião honesta

Vera Carregueira





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