"O Funeral da nossa mãe" - Célia Correia Loureiro

By Mafi - 20:38



Sinopse:

Quando Carolina Alves se suicida, aos 58 anos, deixa um último pedido: o de que as suas três filhas se reúnam no seu funeral, na pequena povoação (fictícia) de Vila Flor, Alto Alentejo.Quer que participem na festa em honra da padroeira da mesma, pondo de lado o decoro esperado de três órfãs.


Luísa emigrou para França, é viciada em trabalho e despreza o seu passado. Praticamente jurara não voltar 
a pisar a vila da sua infância. Cecília, recentemente casada, é pianista de fama relativa e acabara de se mudar definitivamente para Vila Flor. Inês, que dedica a sua juventude às causas políticas, mal recorda um pai de quem se vai falar bastante e que morreu num trágico acidente de carro em vésperas de Natal...


Com a ajuda de Elisa, única irmã de Carolina, vão desvendar ao longo de quatro dias o passado inesperado da mãe, que não é bem aquilo que tinham julgado, e que cometeu um acto indesculpável para prender, há trinta e oito anos atrás, aquele que viria a ser o pai das suas três filhas...


Opinião:



Depois de no início deste ano ter lido “Demência” o livro de estreia da jovem autora Célia Correia Loureiro, eis que chega agora ao mercado, novamente com o carimbo da Alfarroba, o segundo romance “O funeral da nossa mãe”. Após ter lido o primeiro livro, esperava ansiosamente por mais um livro da Célia e só tenho a dizer que esta rapariga vai longe!

Mais uma vez, viajamos até ao interior do país, desta vez até Vila Flor, no Alentejo. É aqui que três irmãs se irão reencontrar e reatar os laços de família há muito perdidos. Luísa, Cecília e Inês. Muito diferentes mas também bastante iguais.

Comecemos por Luísa, a irmã mais velha, mais orgulhosa, pragmática e racional. Após a separação dos pais, nunca perdoara a mãe por ter ficado sem o pai Lourenço, virando-lhe as costas depois da morte deste. Saiu do país que não lhe fascinava e é bem-sucedida em Gestão. Cecília, a do meio, dotada de um talento inigualável para a música, deve a sua paixão pelo piano e pela música à bisavó Palmira, que nunca a veria em palco. Muito delicada e frágil, apaixona-se por Vicente, procurando um refúgio em alguém     que lhe dê estabilidade, mesmo que as irmãs não aprovem este amor. Inês, como a própria autora a caracteriza, é a mais desconfiada, talvez por ter sofrido um grande golpe enquanto criança.

Quando a mãe das três raparigas, Carolina se suicida, todos ficam intrigados com esta morte súbita, pois nada levava a crer que Carolina fosse infeliz (apesar da distância entre a progenitora e as três filhas). Curiosas e com a ajuda da tia Elisa, Luísa, Cecília e Inês recuaram até ao passado, aos tempos de juventude dos pais e descobriram um poço de segredos e intrigas que acompanharam sempre a vida de Carolina e Lourenço. 

A escrita da autora mantém-se no mesmo nível de qualidade, convidando o leitor ao Alentejo rural, tão Português, com direito a tudo o que é típico das comunidades mais pequenas e isoladas: a entreajuda, respeito, união dos vizinhos quando se realiza o funeral de Carolina e as festas da aldeia, às quais, Carolina obriga que as filhas compareçam, de modo a honrarem a sua memória.

Como disse a trama é contada através do passado e intercalando com o presente, pontuada por revelações e descobertas que criam todo o enredo num clímax, não há uma grande revelação que abale toda a história, há vários desvendares que nos mostram toda a mágoa, as mentiras e jogos que Carolina cometeu e que Lourenço sofreu. Os fragmentos das acções cometidas pelos dois vão afectar para sempre o rumo das irmãs Esteves.

Em termos de narrativa não há nada a apontar, eu adoro ler romances portugueses, romances que falem da cultura e tradições     que só quem é Português é que percebe! E dou o valor à Célia por escrever história tão bonitas, românticas, actuais, bem como ela própria diz: “histórias que não são a história de ninguém, mas serão certamente a história de alguém.”

De resto, talvez o único ponto negativo que tenho a apontar é o facto de muitas vezes não haver parágrafos e serem páginas e páginas como um grande bloco de texto, e que cansaram-me um bocadinho. Não encontrei erros gramaticais, nem senti falta de vírgulas ou pontos finais. O vocabulário da autora é bom e adequado ao tipo de história que apresenta.
Concluindo, foi um livro que me deu grande prazer em ler e tenho de dar os parabéns à autora, pela sua tenra idade, já vai no seu segundo romance. Já estou à espera do próximo! 

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