A Última Ceia de Nuno Nepomuceno chegou às livrarias portuguesas em Janeiro e já está na 2.ª edição. Sendo o 6.º livro do autor e o terceiro onde se acompanha a personagem Afonso Catalão, Nuno Nepomuceno tem feito um percurso pautado de sucessos. Os seus livros têm uma legião crescente de fãs que nos mostra a qualidade da sua escrita. O Crónicas teve oportunidade de entrevistar o autor. Para ler a opinião ao livro basta clicar aqui.
foto retirada do site do autor |
Quem acompanha o Nuno pelo blogue e redes sociais
percebe que faz um trabalho de pesquisa exaustivo para as suas obras. Como foi
o processo desde a compilação da informação necessária até começar
efectivamente a dedicar-se ao manuscrito?
A produção do livro demorou cerca
de um ano, desde a altura em que comecei a desenvolver a ideia, passando pela
pesquisa, a redação e terminando no trabalho de edição. O meu método de
trabalho é bastante rígido, ou seja, só avanço para a fase seguinte depois de
ter terminado a anterior, pois só assim é que me sinto seguro. Das quatro fases
que enunciei atrás, a que demorou mais tempo foi a investigação. Durou quase
seis meses. Comecei por visitar Milão, a cidade que inspirou o livro e onde
decorrem os primeiros capítulos, de seguida li vários livros sobre o roubo de
arte e arte em geral, e terminei com a viagem à Academia Real das Artes de
Londres. Foi durante este período que esbocei o enredo.
Como é que vê o seu percurso desde O Espião Português
até A Última Ceia?
Sinto-me orgulhoso do caminho que
tenho feito. Não sou um escritor muito popular ou respeitado pelos meus pares,
mas considero que tenho tido uma carreira honesta, alicerçada no meu trabalho,
o que tem dado os seus frutos. Se compararmos O Espião Português com A
Última Ceia, julgo que iremos encontrar dois livros muito diferentes. Caso
pudesse voltar atrás no tempo, voltaria a escrevê-los exatamente da mesma
forma, pois essa diferença não resulta da qualidade ou não de um livro ou do
outro, mas essencialmente do meu amadurecimento enquanto pessoa e escritor.
Comecei há quinze anos a escrever o meu primeiro livro. É natural que tenha evoluído.
Num vídeo publicado no seu site, vemos o entusiasmo do
Nuno a falar ao leitor sobre esta obra. Podemos dizer que é o seu filho
favorito?
Não lhe chamaria um filho, mas,
sim, A Última Ceia é o meu livro
preferido. Não tem tanto a ver com o enredo, mas sim com o facto de considerar
que é aqui onde demonstro toda a minha maturidade narrativa e versatilidade
enquanto escritor. Não seria capaz de escrever um livro sobre o roubo de um
quadro há quinze anos.
Como é que aconteceu a transição, da ideia inicial, de
escrever um thriller religioso, para um romance com um foco particular em roubo
de arte?
Acho que houve um momento, que
não sei dizer bem quando aconteceu, em que simplesmente me apaixonei pela obra
de arte em si. Quis criar alguma coisa que fosse capaz de fazer jus ao
significado e carisma de A Última Ceia.
Por outro lado, pareceu-me que seria uma oportunidade de aprender e explorar os
meus próprios limites. O tema dos roubos de arte tem aparecido na literatura,
mas somente de modo bastante ocasional, o que fez da produção do livro uma
experiência enriquecedora e desafiante.
Não estamos perante um livro que possamos inserir num só
género literário. Temos romance e um thriller num só, muita ação, suspense e
amor. Acha que será mais fácil chegar a mais pessoas?
Sim, concordo com essa análise.
Acho que o sucesso que o livro está a ter resulta sobretudo disso. De uma forma
muito simples, mais do que um thriller,
A Última Ceia é uma história de amor,
um «conto» sobre a relação entre um homem e uma mulher. E esses sentimentos
serão sempre universais.
O que nos pode desvendar sobre as personagens
principais? O que podemos esperar deles?
É uma pergunta interessante, pois
este foi exatamente um dos desafios que a redação do livro me colocou. O casal
de protagonistas é muito diferente. A mulher, Sofia, evolui imenso e acho que é
a personagem com que o leitor se irá identificar mais. Tem todas as
caraterísticas de uma heroína tradicional, incluindo a capacidade de
sobrevivência. Já Giancarlo, o homem que a seduz, não. É uma personagem
estática, sobre a qual sabemos logo no início do livro ser um vilão, um ladrão
de arte, o que me obrigou a trabalhar o enredo para manter a narrativa
interessante. Se pensarmos bem, já sabemos mais ou menos como é que o livro
acaba quando ele começa.
Afonso Catalão volta a ter um papel fundamental no
desenrolar da ação. Como tem sido desenvolver este personagem que nos acompanha
desde A Célula Adormecida?
Tem sido muito gratificante. O
professor Catalão é bastante diferente do meu primeiro protagonista, a
personagem principal de O Espião
Português e restantes volumes da série. Afonso, ao ser um homem mais velho,
tem outra dimensão emocional, além de um passado obscuro, negro, fruto de
alguém que, apesar de ser honesto, teve de sobreviver àquilo que a vida lhe
deu. É uma personagem que faz o que considera ser correto e necessário para o
bem maior, mesmo que para tal tenha de quebrar algumas regras. Os últimos
capítulos de A Última Ceia revelam
isso mesmo. Há mensagens subliminares nas linhas de diálogo do professor
Catalão que nos deixam a pensar sobre a interpretação que devemos fazer dos
factos narrados anteriormente.
A Última Ceia é uma das mais famosas obras de arte do
mundo. Qual é a importância da arte na sua vida?
É um lugar-comum dizê-lo, mas, em
geral, trata-se de uma inspiração. Tenho um imaginário muito visual e, por
vezes, uma fotografia, uma música, ou um quadro, como foi o caso de A Última Ceia, são suficientes para
projetar em mim imagens muito fortes, à volta das quais consigo mais tarde
construir um romance. Até agora, foi sempre assim que o meu processo criativo
começou. Por outro lado, neste momento, a minha arte, escrever, é o que me faz
ultrapassar os dias.
O que gostaria de dizer a alguém que está a ler pela
primeira vez uma obra sua?
Que aproveitem o espetáculo.
Entrevistado por: Vera Carregueira
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