A mulher que decidiu passar um ano na cama, de Sue Townsend [Opinião]

By Vera Carregueira - 14:42

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Sinopse:
No dia em que os seus filhos gémeos saem de casa para ingressarem na faculdade, Eva sobe para o seu quarto, deita-se na cama e ali permanece. Durante 17 anos quis gritar ao mundo que a deixasse em paz, e esta é finalmente a sua oportunidade. O marido, um astrónomo há oito anos a viver um caso extraconjugal, não está nada contente: afinal, quem é que lhe vai fazer o jantar ou passar as camisas? Mas, inesperadamente, as notícias da decisão de Eva espalham-se pela cidade. Centenas de fãs apoiam-na, encarando a sua recusa em sair da cama como uma ação de protesto. E, do seu estranho lugar de dependência autoinfligida, Eva começa a ver-se a si própria e ao mundo de forma muito diferente... 


Pelo título temos uma boa ideia do que trata este livro. A mulher que decidiu passar um ano na cama foi uma das leituras mais surpreendentes deste ano e julgo que cada leitor pode adaptar os acontecimentos à sua experiência pessoal.

Esta não é uma história de amor, não é um thriller, não tem suspense nem ação mas é uma história sobre a fragilidade do ser humano, sobre o facto de nunca ninguém nos conhecer totalmente e como nos conseguimos surpreender a nós próprios.

Eva é uma mulher na cada dos 50 anos, senhora de uma beleza natural, dona de casa perfeita, esposa exemplar e mãe dedicada, na verdade a vida da protagonista foi um acumular de situações que a conduziram a uma ruptura emocional completamente radical.

Na manhã do dia que os filhos foram para a faculdade Eva deitou-se tal como estava (vestida e calçada) na sua cama sem qualquer intenção de lá permanecer muito tempo, contudo o facto de os filhos terem ido embora fê-la compreender que poderia deixar cair toda aquela fachada de perfeição.

Vamos aos poucos conhecendo melhor as personagens deste livro. Os filhos gémeos Brianne e Brian Junior são dois adolescentes dotados de uma inteligência acima da média mas com uma enorme deficiência na capacidade de se relacionarem com outras pessoas, extremamente egoistas e arrogantes as suas atitudes chegam a roçar o absurdo.

Brian, o marido, é um cinquentão sem atrativos físicos com uma relação extra-conjugal com uma mulher vários anos mais nova, um astrónomo pretensioso e com complexo de superioridade em relação aos "comuns" mortais é um homem com uma personalidade fraca e egoísta.

Confesso que achei Eva uma icógnita até perto do final, durante bastante tempo não consegui perceber se ela teria uma perturbação mental, um colapso nervoso que a fez permanecer na cama ou se seria apenas uma mulher determinada, a protestar por uma vida inteira de exigências que só ela poderia resolver. Penso no entanto que nos são dadas várias pistas da real situação como o facto de ela não conseguir ir à casa de banho sem fazer um caminho com os lençois por considerar isso uma extensão da cama.

Contudo este livro atinge proporções ridiculas no momento que desconhecidos começam a visitarem para a consultar, pedindo conselhos e seguindo-os embora Eva diga apenas a verdade sem artificios e falsidades e com uma imensa vontade de ser deixada em paz.O histerismo leva a que ela seja venerada à porta de casa tendo dezenas de pessoas acampadas à sua porta.

A autora conseguiu construir uma história que de tão absurda se torna viciante. Alternando situações domésticas e humor leve Sue Townsend escreve de uma forma simples uma história que nos deixa a questionar sobre diversos temas da sociedade, o fanatismo e mediatismo que se constroi em torno de acontecimentos banais, o facto da protagonista sofrer ou não de sindrome do ninho vazio, ou talvez um esgotamento, também o facto de muitas pessoas aparentarem uma "perfeição" e na realidade escondem grandes segredos que as consomem durante décadas. Há tantos detalhes que são esmiuçados de forma inteligente que alguns ficam quase escondidos.

Apenas o final não correspondeu às minhas expetativas ficou a ideia que faltou algo, uma conclusão. Porém foi um livro que me fez pensar e questionar várias coisas e por esse motivo recomendo-o.

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