Somme, 1916. Sophie vive numa vila ocupada pelo Exército alemão, tentando sobreviver às privações e brutalidade impostas pelo invasor, enquanto aguarda notícias do marido, Édouard Lefèvre, um pintor impressionista, que se encontra a lutar na Frente. Quando o comandante alemão vê o retrato de Sophie pintado por Édouard, nasce uma perigosa obsessão que leva Sophie a arriscar tudo – a família, a reputação e a vida. Quase um século depois, o retrato de Sophie encontra-se pendurado numa parede da casa de Liv Halston, em Londres. Entretanto, Liv conhece o homem que a faz recuperar a vontade de viver, após anos de profundo luto pela morte prematura do marido. Mas não tardará que Liv sofra uma nova desilusão - o quadro que possui é agora reclamado pelos herdeiros e Paul, o homem por quem se apaixonou, está encarregado de investigar o seu paradeiro… Até onde estará disposta Liv a ir para salvar este quadro? Será o retrato de Sophie assim tão importante que justifique perder tudo de novo?
Depois de um romance arrebatador que pôs a autora nos lugares cimeiros dos melhores livros de Romance Contemporâneo de 2013, Jojo Moyes volta a uma fórmula que não me tinha agradado anteriormente: a alternância entre o passado e o presente. Este tipo de narrativa não me tinha sido convincente no livro "A última carta de amor" e apesar de ser grande fã da autora e de estar ansiosa por este novo romance, quando soube que o mesmo seguiria esta linha de escrita, fiquei de pé atrás. Confirma-se que não me prendeu tanto como "Viver depois de ti", sendo este a obra-prima da autora, e muito dificilmente, será ultrapassada. Contudo "O olhar de Sophie" não foi mau, longe disso e merece o reconhecimento devido.
Tecendo as duas histórias em paralelo, cruzando-as no ponto essencial, Jojo consegue mostrar várias facetas da sua escrita, onde encontro pontos fortes e fracos. A autora é muito boa no tempo do passado, narrando a 1ª Guerra Mundial em primeira pessoa, pelo o olhar de Sophie (juro que não foi trocadilho com o título do livro). Aqui Jojo tem total liberdade para mostrar como é talentosa nas descrições e na construção das personagens. É fácil criar uma empatia com Sophie, Heléne ou o grupo de alemães, que mesmo sendo o inimigo, por vezes conseguem mostrar um lado atencioso, ainda que seja por breves momentos. Contudo na parte do presente, onde nos é apresentado Liv e Paul, os principais protagonistas, a autora acabou por recorrer à escrita na terceira pessoa do singular, não sendo de todo a atitude mais inteligente. É notória como aqui a escrita é mais fraca e consequentemente aborrecida. Moyes não consegue manter o interesse nas descrições e mesmo as personagens em comparação com a outra linha temporal, não me pareceram tão cativantes. Mesmo estando as duas personagens femininas principais a passar por períodos bastante conturbados (Sophie, o da Guerra e Liv o de luto) achei Sophie muito mais forte do que Liv, com quem não me consegui identificar e conectar.
Fiquei contente que o romance entre os dois (Paul e Liv) não tenha sido tão aprofundado quanto poderia ter sido, teria certamente ofuscado o principal tema do livro. A autora foi inteligente em dar um final feliz, mas trazendo sempre reviravoltas ao livro.
Por factores exteriores, o assunto principal - a legitimidade do quadro - interessou-me imenso. Foi muito interessante ver como a autora extrapolou todo o caso mais do que juridicamente. Muitas vezes, os objectos tornam-se demasiado pessoais, e é o factor emocional que nos liga a algo e não apenas o que é escrito num papel. A partir do momento em que é exposto todo o caso, a autora recorre novamente a fragmentos do passado para explicar o presente, havendo um salto temporal de cerca de cem anos e muitas acções a serem explicadas. O clímax do livro é nos dado mesmo nas últimas páginas e achei um final bastante bom face a toda a história nos contada.
Embora seja um livro com uma trama sólida e personagens bem caracterizadas e construídas, com uma carga emocional pesada (a abordagem da Primeira Guerra Mundial é excelente, sendo um assunto pouco explorado na literatura, dando-se preferência sempre à Guerra mais recente) a falha na escrita em terceira pessoa e o desaparecimento de Mo, uma personagem que até tem o seu destaque, impedem-me de dar a pontuação total ao livro. A linha temporal do presente merecia uma abordagem mais eficaz em termos de narrativa, pois houve partes confusas e monótonas e deixou bem claro o ponto fraco da escrita de Jojo Moyes. Outro apontamento, aqui referente ao título em português, não gostei e não compreendo-o totalmente. No seu original "The Girl you lef behind" tem um duplo, ou até mesmo triplo significado. Refere-se à própria Sophie, abandonada injustamente, pelo marido e consumida pela Guerra, refere-se a Liv, também abandonada pelo marido, numa morte prematura e repentina e refere-se por fim ao quadro em si, à figura feminina representada numa moldura, deixada para trás num século turbulento. "O olhar de Sophie" não é todo o título adequado, dando protagonismo à pintura em si e aquilo que esta representa e claramente dando mais atenção apenas a uma das personagens principais.
Tirando estes pontos negativos, "O olhar de Sophie" consolida o sucesso alcançado com "Viver depois de ti", que embora não seja o primeiro livro da autora, foi sem dúvida aquele que a fez ganhar mais fãs. Espero assim por mais livros desta autora!
1 comentários
Depois de ler "viver depois de ti" agora quero ler todos dela e estou expectante com este ;)
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