A leitura deste livro foi uma verdadeira guerra com uma mistura de sentimentos controversos em que não conseguia decidir se estava a gostar ou não da história. P. C. Cast conseguiu pegar numa história espectacular, com uma premissa fantástica e quase arruinou tudo. Assim sendo este livro tem imensos pontos negativos mas muitos pontos positivos também e irei enumerá-los.
Comecemos pelo lado negativo:
1) A protagonista, Shannon Parker, é uma professora do secundário, ela deveria ensinar os alunos a falarem de forma correcta em vez de falar como uma adolescente. Como ela referiu muitas vezes ela é licenciada em Literatura, leu centenas de livros, aconselha e incentiva os seus alunos a lerem e depois fala como uma carroceira sem formação nenhuma.
2) Sendo a narrativa na primeira pessoa temos acesso em primeira mão aos pensamentos de Shannon e garanto que é a personagem mais hiperativa e infantil que já vi, afinal esta mulher tem 35 anos.
3) P. C. Cast parece não ter noção que uma mulher adulta normal não diz coisas como "Espaço Só Meu" ou ainda "Terra dos Meus Sonhos" e enfatizo o uso das maiúsculas, essas expressões são próprias de adolescentes cheias de hormonas saltitantes.
4) É completamente absurdo a protagonista referir-se ao marido (mesmo que apenas em pensamentos) como "homem/cavalo/sei lá" a expressão correcta é centauro como ela muito bem sabe, mais uma vez saliento que isto são atitudes próprias de uma miuda.
5) A tradutora conseguiu ir buscar expressões do arco da velha que em nada ajudaram a melhorar a impressão que estava a ter durante a leitura, "c'um pirete" é expressão que nunca ouvi, tanto quanto sei faz-se um pirete mas não se usa essa palavra, mais valia dizer algo como "c'um caneco" ou "c'um caraças" que são expressões muito usadas, "galifona" é de morte, juro que me ia dando uma coisa má quando li esta palavra no livro, é uma expressão tão vulgar que tenho a certeza que conseguiriam arranjar algo melhor. A pior palavra que encontrei no livro foi um erro ortográfico a peça de roupa feminina é top e não tope, a palavra não tem E no final e não é uma gralha pois aparece duas vezes seguidas na mesma página. "Rais t'abrasem" é completamente incompreensível como é que esta expressão antiga e caída em desuso pode ser utilizada como se fosse uma piadinha sexual. E o uso constante da palavra "credo" chega a assustar. Há mais mas estas foram as que se destacaram.
6) Nós conseguimos perceber desde o inicio que a verdadeira Rhiannon com quem Shannon trocou de lugar é uma verdadeira cabra sem coração não há necessidade de sermos relembrados disso a toda a hora, basta ver pelas suas atitudes e pelo que os escravos demonstram.
7) Como referi no ponto um sendo licenciada em Literatura esperava que ela conseguisse adequar a sua linguagem à época para a qual foi transportada em vez de deixar as pessoas completamente abismada com o uso de um vocabulário corriqueiro e de calão.
8) Outro ponto completamente desnecessário no livro e que só vem arruinar mais a imagem que temos de Shannon é que esta bebe vinho como se não houvesse amanhã e chegamos a dar conosco a pensar se ela não irá desenvolver uma cirrose a curto prazo. A mulher bebe vinho tinto como quem bebe água e faz questão de demonstrar o seu gosto, chegando a ficar alcoolizada uma vez e alegre noutra, bebe inclusive ao pequeno almoço e quando um dia começam a levar chá ela estranha. Não pode ser um comportamento considerado normal e não entendo porque a autora fez questão de frisar este facto várias vezes.
9) Os sonhos de Shannon são completamente irreais dentro da mais pura fantasia sexual feminina roçando quase a imbecilidade onde actores famosos e super herois como o batman ou o super-homem competem pela sua atenção. As suas muitas referências a John Wayne chega a roçar a obsessão.
Ainda assim há muitos pontos positivos, as descrições dos lugares e das pessoas assim como dos hábitos estão bem feitas. Gostei muito da personagem de ClanFintan o centauro marido de Shannon é simplesmente fantástico, atencioso, leal, justo, um grande estratega e um marido como poucos, com uma personalidade constante, carinhosa e bondosa é provavelmente uma das melhores personagens masculinas que já li. Alanna que de inicio era apenas uma escrava acaba por se tornar uma boa amiga com uma personalidade calma e perspicaz é ela que ajuda a protagonista a adaptar-se ao novo mundo. Adorei a inserção de centaurides, fêmeas com uma força e destreza fenomenais que adicionam excelentes momentos ao livro. As batalhas são espectaculares principalmente a ultima está muito bem descrita e conseguimos visualizar muito bem todos os acontecimentos. E por fim em relação a Shannon não se pode odiá-la completamente apesar do seu feitio desfasado da realidade e da sua mente infantil e hiperactiva ela é completamente boa e com um sentido de justiça muito claro, uma optima lider do seu povo. Por isso como vêm apesar dos vários pontos negativos a leitura até foi fluida e consistente e fez-me ficar com vontade de ler os restantes.
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