A primeira vez que tive contacto com este livro fiquei com a sensação que seria um livro fenomenal, depois refreei-me. Optei por esperar uns dias pois temia que entre o hype em volta dele e as expectativas que entretanto criei poderia fazer com que no final me desiludisse. Aos poucos fui conseguindo baixar as expectativas, li o prólogo, achei-o estranho, coloquei de lado e depois finalmente sábado li mais umas páginas e gostei. Como estava numa fase que não me apetecia absolutamente nada (sabem quando não querem filmes nem séries, os livros não vos chamam e nem um joguinho de telemóvel daqueles que faz esturricar neurónios apetecia? era assim que estava) domingo lá me obriguei a sentar no sofá com o livro na mão. O problema depois foi conseguir largá-lo, foi um sacrifício imenso largar o livro e parar de ler.
A verdade é que me fez bem baixar as expectativas fez com que no final tivesse adorado o livro, de uma forma extremamente sombria. Durante todo o enredo sentimos que há algo ali, algo deslocado, que nos faz arrepiar e dizer à Allison para olhar por cima do ombro.
Vi uma comparação entre Harriet Tyce e Paula Hawkins e o certo é que eu faria a mesma ligação entre as duas. A protagonista não é uma pessoa adorável, dificilmente sentimos empatia no decorrer da ação, sentimos nela uma fragilidade muito grande que a faz escudar-se em comportamentos incoerentes. Advogada com uma carreira interessante, Allison tem o primeiro homicídio para defender e a partir deste caso vemos uma série de incongruências tanto no caso como na vida da advogada. Vamos conhecendo o seu dia a dia, a família, o escritório e os colegas, as saídas para beber ao fim do dia, as idas a tribunal e tudo isso nos ajuda a compor um quebra cabeças que não é fácil.
A forma como Harriet Tyce vai desenvolvendo a trama agarra-nos de tal maneira que precisamos de ler "só mais um" capítulo, que são relativamente curtos. A escrita irrepreensível e as personagens excelentemente construídas são uma mais valia e a enorme evolução que vamos verificando na protagonista assim como as descobertas que fazemos em relação aos que a rodeiam fazem o leitor ficar horas agarrado às palavras.
Adorei, muito mais do que esperava. Uma história tão realista que poderia efectivamente ser real o que nos arrepia e choca e ao mesmo tempo é o que nos faz querer avançar cada vez mais.
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