A autora com um exemplar da edição portuguesa |
A simpática autora brasileira Carina Rissi acedeu dar-nos uma entrevista pelo que reproduzimos na integra as perguntas que fizemos e as respostas da autora.
Olá Carina, antes de mais quero agradecer o tempo que nos dedica, sei que anda em turné para o novo livro e por isso acredito estar cheia de trabalho. Muito obrigada. Queria dizer-lhe também que li Perdida por indicação de uma amiga que leu o ebook original e fez imensos elogios. Confesso que de início a jovem Sofia me irritou um pouco mas cedo comecei a gargalhar com as situações caricatas que ela vai encontrando (principalmente a das folhas de alface e toda a situação que precede esse acontecimento). Porém foi o final que me arrebatou e me fez chorar imenso, foi um golpe de mestre.
Que alegria ouvir/ler isso! Obrigada!
E obrigada também pelo espaço em seu blogue! Muito obrigada mesmo!
Edição brasileira |
1. Perdida foi publicado originalmente em 2011, como é ver passados 5 anos o “primogénito” ser adaptado para Portugal?
É maravilhoso! Um sonho muito maior do que eu teria sido capaz de sonhar (e olha que imaginação eu tenho de sobra). Portugal foi o primeiro país da Europa a me publicar. Justamente Portugal, berço da literatura para mim.
2. Como tem sido a aceitação do público português?
Portugal tem me recebido com muito carinho. Eu não esperava! Recebo recados e reviews muito positivas e estou encantada com a maneira com que os portugueses abraçaram Ian e Sofia. (Obrigada, pessoal!).
3. Uma das questões mais levantadas foi a questão da ausência da escravatura no livro, a qual já foi explicada, acha que a aceitação do público brasileiro teria sido diferente se tivesse incluído escravos na narrativa? Se sim, de que forma?
Acredito que teria sido diferente, sim, porque a história seria completamente outra. A melhor amiga de Sofia é negra. Então, consegue imaginar qual seria a reação dela ao chegar ao século XIX e se deparar com escravos? Se Ian tivesse uma senzala? Não consigo sequer imaginar isso. Ian é um homem bom demais para tratar qualquer pessoa com menos do que respeito. Se eu tivesse incluído a escravatura em Perdida, em vez de uma história de amor eu teria contado uma luta insana da Sofia contra as barbáries do odioso Ian. E não era isso que eu queria contar.
4. Uma das grandes diferenças linguísticas entre Portugal e o Brasil é o calão, o nosso é completamente diferente e não o usamos com tanta frequência principalmente em situações mais sérias, porém creio que no Brasil está mais enraizado (corrija-me se estiver enganada). Seria possível a Sofia conter mais o uso do calão ou isso tornaria a personagem menos credível aos olhos do leitor?
Existem tantas diferenças entre o português europeu e o brasileiro que, durante a leitura da adaptação portuguesa de Perdida, senti como se fossem dois idiomas distintos.
A Sofia é uma jovem brasileira e se expressa como tal. E isso é importante demais para a trama, sobretudo depois que ela chega ao século dezenove, período onde o calão não existia. Basta que ela abra a boca para que as pessoas compreendam que ela é diferente de todos ali. Era muito importante mostrar as mudanças entre o português (brasileiro) de 1800 e o dos anos 2000, assim como mostrei as diferenças dos hábitos e dos costumes.
5. Ian é um cavalheiro, absolutamente maravilhoso, é impossível não nos apaixonarmos por ele já que é tão diferente de outros personagens masculinos que “conhecemos” neste género de romance histórico. Como surgiu a construção da personalidade de Ian?
Eu sou muito, mas muito fã de Jane Austen! Ela me inspira de todas as maneiras possíveis! Então, eu acho que o Ian é algo que meu subconsciente criou, misturando todos os heróis dela com o que eu imagino ser um príncipe de conto de fadas.
6. Algo também pouco usual é a diferença de idades entre Ian e Sofia, qual a razão para Ian ser mais novo?
Essa é uma ótima pergunta. Eu queria esta inversão de papéis, entende? É comum que nos romances as heroínas sejam mais jovens, inexperientes em assuntos do coração e... bom... em outros assuntos também. Sobretudo no período em que se passa a história de Perdida. Nesta época, a mulher tinha pouquíssima (ou nenhuma) voz. Tudo o que tinha para recomendar-se era sua inocência. Sofia não se encaixa nesta descrição. Ela é independente, já teve alguns namorados (e desilusões) e, assim como a maioria das mulheres de hoje em dia, decidiu o que fazer com o próprio corpo. Já Ian é um homem jovem, cheio de responsabilidades, mas totalmente inexperiente com relacionamentos. Eu o coloquei na posição que “deveria pertencer” a Sofia. Dei a ele muito o que pensar.
7. Que tipo de pesquisa fez para a série Perdida?
Fiz todo o tipo de pesquisa. O cardápio da época, a moda, a mobília, o linguajar, os livros da moda, tudo. Foi isso que me motivou a escrever: as mudanças nestes quase 200 anos. Inicialmente, Sofia deveria passear no século dezenove sem grandes consequências. Eu não previ que ela acabaria se apaixonando. Quando percebi o que estava acontecendo, eu pensei "Ih... Isso vai complicar tudo. Oba!" hahaha
8. Haverá um 4.º livro? Para quando?
Haverá sim! Estou trabalhando nele no momento. O 4º volume da série Perdida deve sair aqui no Brasil em outubro, e nele eu vou contar a história da Elisa Clarke.
9. Acaba de publicar no Brasil o livro Mentira Perfeita, estando atualmente a fazer turné, como está a ser a reação dos leitores brasileiros sabendo que este livro é um spin-off de Procura-se Marido que já foi publicado há 4 anos?
São as melhores possíveis. Meus leitores estavam com saudades de Alicia e Max, e puderam revê-los em Mentira Perfeita, além de conhecer melhor Marcus Cassani e Júlia Muniz. Eu não podia estar mais feliz! A história tem agradado muito mais do que eu poderia ter sonhado!
10. A escrita sempre fez parte da sua vida? Quais são as suas referências?
A escrita, não. Mas a literatura sim. Vivo com um livro debaixo do braço desde que fui alfabetizada. Quando adolescente, eu sonhava em ser jornalista (profissão muito próxima da que tenho hoje). Jane Austen é minha maior referência. Amo tudo dela! Também sou apaixonada por Sophie Kinsella e Marian Keyes, rainhas absolutas no gênero no qual eu me aventuro.
11. De que forma a publicação do primeiro livro mudou a sua vida?
Nossa, minha vida mudou completamente. Eu tinha uma vida bastante comum e sossegada. Fui funcionária pública, mas depois que minha filha nasceu, resolvi me dedicar a ela e larguei o emprego. Então ela foi crescendo, eu fui ficando entediada, e acabei escrevendo um livro meio que por acaso. Hoje meus dias são planejados em cima dos meus prazos e da agenda.
Também sou bastante tímida. Normalmente prefiro passar despercebida, mas agora não dá mais. As pessoas querem ouvir o que eu tenho a dizer, tirar uma foto comigo. Acho isso muito maluco!
12. Qual o/a autor/a (não é obrigatório estar vivo) que gostaria de conhecer ou ter conhecido e porquê?
Ah, essa é fácil. Queria ter conhecido a Jane Austen. Tenho certeza absoluta de que teríamos sido as melhores amigas do mundo. Hahaha
13. Gostaria de deixar uma mensagem para os leitores portugueses?
Quero sim. Preciso agradecer o carinho com que tenho sido recebida em Portugal. Vocês têm sido formidáveis comigo! Muito obrigada!
Mais uma vez, muito obrigada pelo tempo dispensado. Votos de muito sucesso e que continuemos a ter os seus livros publicados em Portugal.
Eu que agradeço! Adorei a entrevista! ❤
1 comentários
Parabéns! Gostei muito :)
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