O que te resta quando o homem dos teus sonhos te magoa? Lily tem 25 anos. Acaba de se mudar para Boston, pronta para começar um nova vida e encontrar finalmente a felicidade. No terraço de um edifício, onde se refugia para pensar, conhece o homem dos seus sonhos: Ryle. Um neurocirurgião. Bonito. Inteligente. Perfeito. Todas as peças começam a encaixar-se.
Mas Ryle tem um segredo. Um passado que não conta a ninguém, nem mesmo a Lily. Existe dentro dele um turbilhão que faz Lily recordar-se do seu pai e das coisas que este fazia à sua mãe, mascaradas de amor, e sucedidas por pedidos de desculpa.
Será Lily capaz de perceber os sinais antes que seja demasiado tarde? Terá força para interromper o ciclo?
AVISO: DEVIDO À SENSIBILIDADE DO TEMA ABORDADO NESTE LIVRO A OPINIÃO CONTÉM SPOILERS
Ler um livro de Colleen Hoover é um exercício às nossas emoções, vibramos, odiamos, choramos, rimos, sentimos tudo e nesse momento percebo que aquilo que uma amiga me disse é verdade "a Colleen é uma manipuladora de emoções". Assim que nos agarramos às páginas não as conseguimos largar, ficamos viciados, é nisso que a autora é boa, a criar histórias que nos deixem colados a elas.
Não irei focar-me na escrita de Colleen Hoover depois de tantos livros não há muito mais a falar sobre isso. Irei, assim, centrar-me nas personagens e no tema principal do livro.
Tenho apenas um ponto negativo a apontar e vou já falar nele, como quando nos queremos livrar de algo completamente incómodo que nos chateia verdadeiramente. A sinopse é demasiado reveladora o que juntamente com o título faz com que prevejamos boa parte dos acontecimentos e isso é um "big no-no". Fui inclusive ler a sinopse original para tentar perceber se já estaria assim, o que era bastante improvável, até porque lembro-me da Colleen apelar nas redes sociais que não falassem do tema do livro, e de facto aqui a culpa foi inteiramente da Topseller o que me entristece. Desta forma acabei por não me emocionar tanto como esperava, não consegui.
Posto isto, devo dizer que este livro é tão actual agora, como teria sido há 20 anos como será daqui a 20 anos, a violência doméstica é um flagelo da nossa sociedade que não deve ser escondido. Todos os anos as estatísticas mostram-nos as dezenas de mulheres que morrem às mãos de quem lhes jura amor eterno. "Do trabalho da APAV em 2016
resultaram 12.450 processos de apoio à vítima, nos quais se identificaram 9.347 vítimas
directas de 21.315 crimes e outras formas de violência." (leiam o relatório da APAV de 2016 aqui) É muito fácil julgar a vítima, comentários como "porque é que não o deixa?" ou "apanha porque quer" entre outros é o que mais se ouve na boca do povo que muitas vezes não entende as implicações psicológicas que existem. A violência não é apenas física, há demasiadas condicionantes, as promessas de amor e as juras que nunca voltará a acontecer, as ameaças que matarão ou ainda que ninguém acreditará. Há uma manipulação tão grande que as vítimas chegam a acreditar que na verdade merecem as agressões físicas ou as ofensas que ouvem. Basta ligar a televisão e ver as notícias, as estatísticas são claras,entre 2013 e 2015 houve 49 casos por dia de violência doméstica sendo que a maioria são de mulheres jovens em relação muito violentas. Três em quatro casos denunciados são de maus tratos continuados. Todas as semanas 14 mulheres e 2 homens são vítimas de violência doméstica.
Colleen soube pegar nisto tudo, construiu um enredo que nos deixa a cismar nele. Vemos duas gerações de mulheres a terem de lidar com esta problemática, mãe e filha, em tempos diferentes e cada uma vê a sua realidade de forma diferentes dos outros. A forma como Lily arranja desculpas e explicações sabendo o que viveu em adolescente e o que a sua mãe passou é típico da pessoa que foge à verdade e não pode nem quer acreditar que está a viver uma situação daquelas.
Gostei imenso dos diários que escreveu em adolescente a Ellen DeGeneres (que de resto é personalidade que admiro imenso) e fiquei despedaçada com a história do Atlas, mais uma daquelas realidades que não queremos acreditar porque nos destrói e nos consome. O meu coração mirrou principalmente com a última entrada. Este paralelismo entre a história contada por diários e a actualidade é muito importante para percebermos Lily e acho que a ponte construída entre o passado e o presente é essencial a que a trama possa fluir no rumo certo.
Por saber o tema do livro foi bastante fácil ficar de pé atrás com Ryle, porém até a primeira agressão acontecer não queria acreditar que ele fosse "aquela" pessoa. Mas acho que é assim que funciona, não é? Nunca queremos acreditar que alguém tão brilhante, tão apaixonante, tão vibrante possa ter atitudes tão ignóbeis. Principalmente quando o agressor tem um núcleo familiar absolutamente maravilhoso. É aqui também que levamos uma dose de realidade, as estatísticas provam que não são só nas classes mais baixas que as agressões acontecem, pelo contrário, pessoas de nível social mais elevado, com posições de destaque na sociedade sofrem deste flagelo na mesma medida.
Não há desculpa, não há trauma que justifique, não há nada nem no passado nem presente de alguém que faça com que estas ações sejam perdoáveis ou compreensíveis. Colleen prova-nos isso mesmo, uma vez agressor, sempre agressor e cabe à vítima procurar ajuda para sair de uma situação que poderá colocar em risco a sua vida.
Havia muito mais para falar e sinto que me foquei muito no tema e menos nas personagens porém não consigo ficar indiferente e não conseguiria não abordar a realidade portuguesa. Peço desculpa pelos spoilers mas desta vez não consegui mesmo não os fazer.
Um livro brilhante, que nos prende pelo tema e pelas personagens, Colleen está no meu TOP de autoras favoritas por trazer sempre histórias marcantes, que nos cativam do início ao fim.
Ora bem…. Agora que já li o livro… a minha opinião…. Sim, é definitivamente o melhor livro da Colleen, mas…. Ainda assim o “Amor Cruel” não fica muito atrás…. Tenho tanto que dizer que nem sei por onde começar…. Ainda me dói o coração de tanto chorar… chorei baba e ranho durante a maior parte do livro…. Convulsivamente, que até fiquei inchada na cara e com uma leve dor de cabeça…. (sou uma chorona de livros). Mas toda a história merece… 1º pela vida dela e da mãe, depois pelo Atlas…. Depois pelo Ryle… a minha opinião a cerca do Ryle talvez não agrade a muita gente…. Não me entendam mal, um agressor é sempre um agressor, e a história tem a condução correcta, o fim merecido. Mas eu não odiei o Ryle. Nunca convivi de perto com abusos na minha vida, felizmente, mas pelos Media e histórias daqui e dali não o considero o epitome do agressor…. Não estou, contudo, a defender o comportamento dele nem a aceitar, nem acho que o decurso da história devesse ser diferente… Só tenho pena, muita pena, da vida que ele teve, do que ele viveu, que está implicitamente ligado ao caracter agressivo que ele tem. Mais uma vez, não justifica a violência, mas percebesse o porquê de ele dizer em relação ao miúdo que morreu (logo no inicio do primeiro encontro deles) que aquele acontecimento vai destruí-lo para o resto da vida…. Porque destruiu…. Porque no fundo ele é quem mais perde no meu disto tudo … porque felizmente para a Lily – acaba por ficar bem e feliz, junto de quem a ama e muito e também a merece, já o Ryle, dificilmente conseguirá encontrar a felicidade plena…. E isso apesar de ser a consequência das suas ações, e que no fundo merece, mas … não deixo de sentir tristeza por isso, pois a Colleen escreveu sobre ele, sobre o amor deles e felicidade deles, de uma forma que nos faz apaixonar por ele também……
ResponderEliminarE agora, tanta espectativa e pronto…. Já acabou … lia muito mais sobre eles…. Gostava de um epílogo mais prolongado….