"Longe dos Homens", longa-metragem adaptada do conto "O Hóspede" de Albert Camus, chega às salas de cinema portuguesas na próxima quinta-feira dia 6 de Agosto. Por aqui, o Crónicas de uma Leitora teve a possibilidade de marcar presença na ante-estreia do mesmo, no cinema Monumental em Lisboa e dá agora a sua opinião sobre o filme.
"Longe dos Homens" é baseado num dos seis contos de "O Exílio e o Reino", originalmente publicados em 1957, sendo o último livro editado pelo autor, ainda em vida.
Nesta adaptação temos a estória de Daru, um professor de francês, nascido na Argélia mas que durante a sua infância sempre se sentiu árabe dentro da comunidade. Certo dia é lhe entregado um prisioneiro árabe e recebe ordens que deve conduzi-lo até à cidade de Tinguit e entregá-lo à justiça francesa.
Embora a recusa ao início, Daru acaba por levar o prisioneiro numa viagem pelas terras áridas da Argélia até a um sítio próximo de Tinguit onde o muçulmano poderá escolher o caminho que deseja seguir. Seguindo para Sul onde encontrará um povo nómada que o acolherá, ou a leste onde se entregará às autoridades.
Embora não tenha lido o conto (bem tentei, fartei-me de procurar em formato digital, visto que a compilação em que se encontra o conto, encontra-se esgotada em papel), pela apresentação feita antes do filme, por António Mega Ferreira, percebe-se bem que Daru acaba por ser um alter-ego do próprio Albert Camus, que durante muito tempo viveu um drama existencial semelhante, tendo nascido na Argélia, com nacionalidade francesa, considerado sempre um excluído por ambas as partes.
Se "O Hóspede" foi publicado em 1957, "Longe dos Homens" não poderia ser mais actual, reflectindo bem os conflitos políticos e militares que ocorrem ainda hoje em dia, em países nomeadamente africanos.
A interpretação de Viggo Mortesen é simplesmente exemplar. Ele fala francês, ele fala árabe, ele grita, emociona-se, revolta-se! Gostei imenso de ver o actor neste registo, que lhe cai lindamente. Mohamed, interpretado pelo Reda Kabeb, tem aqui uma interpretação também digna de nota, acabando por ser a personagem principal (ou o conto não se chamasse "O Hóspede")!
Ao realizador e argumentista, David Oelhoffen só lhe poderão ser tecidos. Pegar num conto de 12 páginas e adaptá-lo a uma longa-metragem de quase duas horas, não deve ser tarefa fácil. Mas Oelhoffen fê-lo de uma maneira única, tendo margem para uma adaptação livre do conto, não sendo fidedigna às páginas escritas por Camus, conseguindo distanciar-se do tempo narrativo do conto, acrescentando uma data de episódios inéditos e à medida em que caminha para o final, consegue retomar a narrativa de Camus.
Embora não seja de todo o meu género de filme, posso dizer que apreciei bastante "Longe dos Homens". Não só deu-me vontade de explorar a obra do escritor francês, como fez-me reflectir sobre a intemporalidade de algumas obras como é o caso deste filme,
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