Sophie é resgatada por Charles Maxim das águas do Canal da Mancha, após o
barco em que viajava ter sofrido um naufrágio. Sozinha no mundo, a
criança não terá mais de um ano e fica a viver em Londres sob a tutela
provisória de Charles, que a ama e educa como uma filha de verdade.
Sophie cresce na esperança de vir encontrar a mãe, perdida no naufrágio.
Mas cresce também num misto de felicidade e angústia, pelo receio de um
dia ser forçada a ir para um orfanato.
E é naquela esperança, que no amor funde a irracionalidade da crença com
a audácia e a astúcia da vontade, que chegado esse dia, Charles e
Sophie decidem que há só uma saída: fugir de Londres e ir para Paris, à
“caça” da mãe.
É aqui que Sophie conhece os vagabundos dos telhados e os torna
cúmplices leais da sua aventura. É uma história de amor e de afetos, de
laços de amizade e cumplicidade, de medos, angústias, sacrifícios, de
hesitações e coragem, de argúcia e destreza. Dá voz aos mais pequenos e
aos ignorados e marginalizados da sociedade. Os atos mais simples são os
mais generosos, e a bondade é uma virtude relembrada a cada som que a
música, sempre a música de um violoncelo, vai ecoando ao longo das
páginas, por cima dos telhados.
E é uma história sobre a mãe. E sobre a filha. E sobre um homem que, não
sendo pai, foi o melhor pai de sempre.
“Talvez seja, pensou ela, o que amor faz. Não existe para te fazer
sentir especial. Mas para te dar coragem. Era como uma ração para o
deserto, como uma caixa de fósforos num bosque escuro. (…) Era o que a
mãe sempre tinha sido para ela. Um lugar para repousar o coração. Um
refúgio para recuperar o fôlego. Um conjunto de estrelas e mapas.” – K.
Rundell, Os Vagabundos dos Telhados.
Roof Toppers, Os Vagabundos do Telhado foi uma das leituras mais fascinantes deste ano, principalmente se tiver em conta que é um género que aposto pouco. Virado para um público jovem este livro foi sem dúvida nenhuma uma surpresa. Deparamo-nos com a pequena Sophie, uma criatura única, extraordinária, com uma sensibilidade e um fascínio pelo mundo que a leva a percorrer ruas e telhados em múltiplas aventuras fantásticas que nos transportam para um tempo e uma época diferente da nossa e a uma realidade que oscila entre o absurdo e a genialidade.
A escrita de Katherine Rundell é maravilhosa, com um lirismo e uma graciosidade únicos, cheia de mensagens que nos aquecem o coração, a autora consegue envolver miúdos e graúdos numa demanda surreal em busca de uma mãe perdida. O final é lindo deixando-nos cheios de vontade de ter só mais um pequeno capítulo, um épilogo, algo que nos dê mais qualquer coisa de Sophie, do seu excêntrico pai adoptivo Charles e saber mais sobre os vagabundos dos telhados que nos deixam marcas pelas suas vivências e força inigualável.
Cativante, comovente e absolutamente recomendável para todas as idades, aguardo ansiosa pelo próximo título da autora a ser publicado brevemente pela Individual.
Este exemplar foi gentilmente cedido pela Individual em troca de uma opinião honesta.
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