Mildred Pierce de James M. Cain [Opinião]

By Cle - 15:32





Sinopse:

Mildred Pierce foi abençoada com umas pernas de fazer perder a cabeça, jeito para a cozinha e uma personalidade que não é para brincadeiras. Tudo isso lhe foi útil quando teve de sobreviver ao divórcio e à pobreza e abrir o caminho de saída da baixa classe média. Mas Mildred tem também duas fraquezas: uma tendência para se apaixonar por homens indolentes e uma devoção irracional pela filha mimada e egoísta. Cain é um observador nato da natureza humana, das suas idiossincrasias, fraquezas e motivações. Mildred Pierce, o romance de 1941, é de uma força emocional devastadora e executa uma crítica social contundente. Mildred Pierce, a heroína, é uma personagem memorável, com cujas ambições e mágoas qualquer leitor poderá identificar-se.


Opinião de Cláudia Lé:

Quando passou esta série na televisão, acompanhei os 2 primeiros episódios e posso dizer que estes seguiram fielmente o livro. Um livro de emoções fortes e que dificilmente nos deixará indiferentes. No início da leitura, logo mesmo no primeiro capítulo, caracterizei Mildred Pierce como sendo uma mulher bem à frente de sua época. Época essa em que as mulheres detinham um papel bem secundário na estrutura familiar uma vez que o chefe da casa era o marido, quem trabalhava fora de casa era o marido, as decisões eram tomadas pelo homem da casa. Iniciamos a leitura do livro com Mildred a colocar o marido fora de casa, cansada tanto das suas constantes infidelidades como da sua preguiça para trabalhar. Bert Pierce, marido de Mildred acaba por ceder à pressão da mulher, abandonando-a a ela e às duas filhas que o casal tem; Veda e Ray.

Na sequência do abandono por parte do marido, Mildred acaba por ter de optar por trabalhar fora de casa e aqui tive uma inesperada surpresa. Hoje em dias a maioria das mulheres trabalham fora de casa, no entanto na altura em que a trama se desenrola, certos trabalhos eram considerados desprestigiantes nomeadamente, todo o tipo de trabalho que envolvesse uma farda. Se inicialmente Mildred recusa várias ofertas de trabalho por esse motivo, a dada altura passa a perceber que terá mesmo de optar por servir às mesas embora o esconda de sua filha Veda... Veda, a filha primogénita do casal com uma personalidade forte, manipuladora e de nos revoltar as entranhas.

No desenrolar do livro senti as mais adversas emoções perante a personagem de Mildred, se por um lado ela vem a revelar-se uma mulher forte, corajosa e de carácter, face às adversidades que a vida lhe coloca à frente, por outro lado deixa o coração falar mais alto no que diz respeito à sua relação com Monty e acima de tudo, com a própria filha Veda comprando o amor e respeito deles a troco de dinheiro. Amor esse e respeito que acabam sempre por ser insignificantes se comparado ao que ela proporciona aos dois. Desta forma, Mildred Pierce não é uma personagem constante, não evolui de forma constante durante o livro uma vez que vai ser extremamente influenciável pelas suas emoções. É facilmente manipulável por Veda e Monty acabando praticamente por se tornar numa personagem secundária em determinada parte da trama. Estão sempre presentes os seus medos e, apesar do êxito que tem na sua vida profissional a sua auto-estima sofre constantes abalos perante as críticas de Veda e Monty bem como o desprezo que lhe transmitem pela sua maneira de ser.

Ironicamente, gostei especialmente da personagem de Bert Pierce, único personagem que tem uma evolução muito positiva ao longo do livro e que, se por um lado falhou na íntegra como marido, acaba por se tornar no melhor amigo de Mildred, o seu verdadeiro porto de abrigo!

Haveria muita coisa que gostaria de falar acerca do livro, no entanto não o poderei fazer sob pena de colocar vários spoilers mas espero que o que foi dito «aguce» a curiosidade de quem se encontra indeciso na aquisição do livro. A meu ver este é um livro que nos faz pensar muito para além da sua leitura, não existem personagens bons mas existem sem dúvida, personagens muito mal formados, com muito pouco carácter, que nos deixam estarrecidos com seus atos.

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